Textos de Alberto Moreira Ferreira
Para o reencontro com a poesia declinei os seios
De todo o rio azul no café solúvel da manhã porque
É de sentires penetrantes que se soltam os gemidos
De uma chávena a polir, mais de - cem palavras
Nas entrelinhas, por vezes filó, noutras, a cerzir




., Às vezes também
Penso que a única realidade
É a natureza morta:
Tu morres por aquilo, por isso eu;
Mortos por ter.,
E que a felicidade é necessaria
-mente
Uma ilusão

"No Mar Catártico"
Tal a inocência, o poema torna-se
transparente, e o seu voo é visível,
inadiável. A ave não tem contas,
soletra apenas o murmúrio do mar, a força das ondas,
suprindo os areais, tem uma vontade
insaciável de nós e todas as suas partículas são castas.
Lá haverá caixas cinzentas, cá há somente quem
se mova debaixo do chão adiar a última chegada
ao porto

"Bordão-de-são-josé"
Procuras-te nos búzios do mar
Nas cores das canções e não é
Que te vais encontrando na poesia
Nos ombros quentes das palavras
A cada dia mais sensível pequeno
E incomensuravelmente
Humano levantando o lugar onde vives

"Remoção da Barriga"
Tens um sombrio esculpido nos olhos de
pedras salgadas. Os sinos dizem-te para parar. Este ano
a primavera começou chuvosa, sem a beleza dos noivos,
como uma nativa de outro tempo abrindo o robe
deixando-te constrangido ante a escuridão que assola
toda a vila de vez em quando. Vale-te o sol uma ou duas
horas por dia, considerando essa parte da casa onde se
encontra o teu quarto, a ler um livro, ainda
com tanto por escrever.

"No Fim do Inverno O Valete de Copas"
O poema oferece-se
Um mimo mais rosa
Como quem labora
E merece, chama-te
Deus servindo-se do vinho
Volta não volta o poema
Enlouquece
Para não enlouquecer

"Feliz Natal"
Singelo, assim é o seu sorriso,
E é um dia quente, muito concentrado,
Com notas balsâmicas, de carvalho,
E aromas de figo e amora, firme,
Maduro e sedoso, persistente complexo elegante,
Lembra um pombo da cor do mel,
Onde os meus olhos nevoentos ardem,
Não há terra que não cante a aurora,
Virginal é a luz azul dos seus olhos,
O perfume das suas coxas é uma bússola,
Onde arrepio caminho e repouso,
É como uma fresca manhã: recomeço,
Seus eruditos mamilos protusos levam cada milímetro deste corpo numa ampla explosão ao mar, de leite, creme, caseiro, hirto, frontal,
Bela, formosa e como, generosa, terra de ouro selvagem, educada, toda ela, fêmea, completa
Ponto da esfera engenhoso celeste
Chamaram-lhe o Rosa do Lulo,
É beleza magnitude magenta total,
Uma rosa flor, menina, divinal

"O Rosa do Lulo"
Rosa magnética que me rendes
Aos pés do teu fundo de argila
Tina de uvas, flor bondosa
Menina doce mar graciosa
Ó meu amor amor bendito
Manhã bonita em que acredito

Ó minha estrela minha aurora
Como é divino esse fogo
A beijar os teus espinhos, sol
Manso que por nós se faz
No regaço onde o meu coração
Mora. A ti despertar, a mim
Minha hora

"A Rosa Magnética" 
Impiedosos pregos, de estátuas,
De onde se erguem ruas de areia,
E frio é o barulho atrás do fogão,
Da lua a oriente a fugir da porta
E que uma loba remova
A neblina das lâmpadas,
Das noites altas de pedra gávea,
Que, impiedoso é o abecedário
A uma só voz sem
Palavra nem liberdade e amor
Chove lixívia a esbater
O inferno,
Concentrada, por essas mãos
Desencontradas Madame Du
Barry
À procura da humanidade
E a defetividade das curvas em forma de sigma
Sobra o espantalho
Que a noite foi parda
Amando mordendo
Amando morrendo
Denso é esse silencio,
E profundo o agavelar
Onde parimos distancias,
E somo-nos outros:
Quando me falas de amor
Amor

No fundo o coração, sangra, amarga a negar, triste a deixar, e quanto à vontade de partir… no fundo já só lhe resta subir.

Quando já só restar silencio,
Não a solidão que se procura,
Quando já só restar silencio,
Talvez venhas a não gostar.
Então pintá-la-ás [sem legendas]
Como quando se aponta e ela,
Acena daqui para aqui contigo deitado,
Na estação marítima de Oklahoma City,
Enfeitiçado sem querer saber do nada,
Com tudo o que lhe dói e que é,
Nada que, diria eu ser,
Do tempo do silencio,
E de um grande amor.
Cidade de talco, erétria, apinhada,
de tecido muscular, de figuras -
geometria, polígonos e não polígonos,
esquemas, da meia noite à meia noite,
figuras planas, delimitadas
por segmentos de reta, ou
não delimitadas totalmente, abertas fechadas,
paredes meeiras,
muy sexys allá, deusas deuses, divinas
/os,
aonde nos conduzirão! E para que precisamos nós
de nós, de
vida se temos a morte ao alcance da vista, à mão
numa rede de supermercados brincomarché! Ó
ela vida já nem é
viva e a morte a pasmaceira

"A Cidade Não Ouve, Ouve-se Outra Criança"


"Veryland I"

 

Amas a hora do beijo
A certeza do respirar
O calor da presença
A sensação do olhar
Do tocar

Amarga-te a incerteza
O frio e os bicos de pés
O tom da descrença
Que nos leva a perguntar:
- Quem és
Depois das primaveras
A vastidão da planície
Conquista a montanha..
A águia real.,
Aparece a polícia, e diante
A sensação de aperto as rosas,.
Morrem ou gritam, como o
Silencio, a silenciosa ponte
Que se abre e fecha já que,
Policias de cheiro -
O destino de o vinho é dar a mão
Já a dos mortos é a escuridão
E mesmo com toda a invisibilidade
À porta..
O retrato limpo e tranquilo da ponte
Tem o pulso do sol e a lua
E o infinito às vezes
Tens medo da tua ilusão e mais ainda que ela desapareça, e agora, que com o tempo acumulado o que te é dado a ver é um velho gato sozinho, que julgou conhecer-te, tens mais medos que nunca, tens medo das flores, que mudam com o tempo, medo dos jardins, que mudam com o tempo, tens medo dos inclinados e pensas nessa tua ilusão que te faz levantar pela manhã a cerzir, tens medo da água, e do vinho, do vermelho frio, do azul quente, da luz do sol coberto pelas nuvens, e medo de perder o medo, os insetos assustam-te e tens medo dos monstros ao redor, tens medo da luz e da escuridão, tens medo da sombra que se ergue dos rios profundos, tens medo dos beijos do mar que te chegam dos mortos, medo da vertigem que sentes ao olhar para o chão, e medo dos medos edificados de tantas e tantas mãos, os teus medos encolhem-te, adormecem-te, agigantam-te, e perdes a vista ao gato, e a medo ficas-te pelo fogo, o fogo é a tua ilusão, e dela não te afastas, da coragem não abres mão, e a medo sonhas, tens num buquê toda vida, a rosa visita-te quando te morres, a azul tónica justifica admiração, a branca é uma exceção, de mel extraído da colmeia, a vermelha ressuscita-te o coração. Além disso, tens medo do medo e de mais nada.

"Wind Rose"
Abasteceram-se de horas e partiram. Iam fazer parte da cidade estrelada numa híper frigideira de alumínio. Ao lugar, só lhe via o despovoado. Subiram às cadeiras carregados de máquinas de furar e lá foram fazer o tal deserto com os olhos brancos esbugalhados postos na mesa a ser repartida por toda a mão leve capaz da mais absurda orquestração. Ainda pensei que houvesse uma fonte decente, mas os pescadores ladravam aos pássaros, os gatos adotavam cães e pareciam felizes no auge das suas armações. Fiquei-me pela argila dos meus dedos sem mãos. Senti o sangue escorrer-me e eles lá continuavam a escavar a furar dia e noite descobrindo surdos, e lá rodavam entre eles os músculos distribuindo maçãs armadas de puas governando os círculos como mudos esfregando os tocos dos membros amputados no centro comercial passando o pé a todo o desvalido feliz com as suas canadianas ganhas no fim da vida onde se abrigavam agradecidos ao frio. Já o sol pendurado, sofria de abandono, não podia fugir ao pilar vertical, frontal, abraçava a palavra,
e abraçaria a vida acaso o amor
não tivesse partido.
Não se perde o que não se tem e no entanto, perde-se o que teríamos.
Pede-lhe uma finura no sapato. Hoje tem a claridade
super debilitada pela interposição da circunstancia, ainda
é noite, amanhã terá uma grande luz.
Não é nada parcimónia
Todo temperança - Sol
E acrasia do mar, do mar
E vai no barco do desejo
Ele é raiz caule ramos, a seiva
Terra água fogo ar, é amor
Mas desavém-se e morre-se
O tempo amputa-lhe os pés

"Escádea"
Bêbado sem tocar no copo, embriagado pela intensidade,
completamente alcoolizado do desejo, que era segredo,
pedrado de amor porque os pássaros também se perdem,
entregaste a arma à flor de todas as tuas inspirações e ela,
não hesitou. Depois de morto perguntaste-lhe porquê, e,
nunca mais obtiveste resposta, ela estava decidida a fugir.
Tinhas tão boa vontade, cegaste confiaste e conheceste a
escuridão. Há dias tão maus. Depois enterraste-te fundo e
com esses que a terra comeu, nunca mais viste a luz do sol.
Será
que não morreste pela mão dela com o teu dedo no gatilho?
Estavas com uma pedra que nem seguraste o coração e nem te
lembraste que a precipitação causa um grande estrago à vida.
Ela é letal. Sempre lhe deixaste o tal livro na caixa de correio!
Quantas histórias... de amor?!
     Vês
Como eu já te esqueci e não deliro,
Nem suspiro por esse perfume
De flor querida. Vês como eu,
Já morri como querias e nem te vou
Dizer que te quero porque como vês
Eu morri como querias. Vês como
Tudo é racional? Achas confuso! Tu
Não vês que eu estou aqui mortinho,
Que me chames amor!

 O único tormento é a eternidade.

Na Bélgica, nem vivalma
Nem o mar
Representativo do Golfo da Biscaia às janelas
Prestes a banhar o rosto da costa
Atlântica de França - Portugal é
O meu canto
Seria a batalha dos revoltados em Waterloo um
Corpo em chamas, um dia vertical em Espanha
A arder
E o verão azul a saudade de te ouvir dizeres-me:
Está calado
Onde é que eu perdi uma mão
Com que abraço é que ganhei
Este silencio
Como fui eu dar à morte o meu
Amor


Em que dia terei eu morrido
Mãe
Chama-me para fora do tempo
Eu, quero voltar ao vazio
Enquanto o mundo dorme
Domingo tinha um fato novo
E segunda ainda tudo dormia
Terça já era usada
Quarta contavam-se estórias
Quinta as pernas espetadas sobre degraus
Sexta-feira voltei a ver o desvario
Sábado passou aleijão, espingardeiro
Voltamos ao domingo, e bem arranjados
Voltamos a ver a mise en plis
A nua
A santa a dançar
Com as folhas a preencher oxalá os pombos descubram céus que os sirvam e valham a pena. Se os dois virem que jamais será como um quer e sim como dois com quatro acordarem.

Não há negrume mais acentuado e letal que o azul silêncio do punhal cravado nas costas, ou a do, da mesma tonalidade, de quem se certifica que o queimado vivo padece até à morte ou à debelação da ferida. Haverá outros negrumes inflamáveis, estratégicos, e todos calçam o coturno. Há estações onde o fim da viagem parece iminente. Como na dor do abandono quando por um motivo de força maior te vês impedido de lutar e mais não te resta para dar que o braço privado da mão. Há silêncios e silêncios. Há o de Judas, das sombras. E há também silêncios precisos, como o de quem morre tranquilo, como o do quem parte sem se despedir por não ser justo depois de dar e cumprir ter de calar roubar ou pedir.

Então isso é que é virtude,
Manifestar a palavra
Usando a língua a esconder,
As mãos
Da sombra que a sugeriu
Demasiado longe da imensidade?!
E o alheamento cuida dele?
E logo mais,
Enganarás o coração?

À nossa volta o contrabando dá-se como países desabitados
O epítome do desdouro nessa roupa,
Catatónica,
É como magia negra feita ao espelho.

Há névoa nos teus olhos castanhos de outono.
Outonos,
E nostalgia no teu corpo de música mimada.

Quem sabe com outros olhos até possas pintar,
A tulipa amarela, e alecrim,
Onde a presença da primavera eleve o teu nome.

Eu preparava-me para essas petúnias possíveis,
Investia nas tuas
Papoilas queridas e até aumentava o lilás.
Cifra leal de lavra em mim, e nenhum
Barulho destino ou volume como se as
Mónicas na jarra tivessem expressão
E o queijo sobre a mesa temesse nunca
Mais ouvir a sua voz
Como sobreviver ao silencio
À presente falta de calor
Ao exílio à distância das pedras acesas
Que nos confundem com buracos
Das sombras do fundo do mar
Que não morrerão contigo, sequer com o fim do dia, com o fim da luta
Que fazer ao meio dia ameaçado pelo estado de quem está só
E torturado pelo retiro
Do fumo das portas a sete chaves
Pela luz que me alumia
Pelos ossos pelas rugas
Pela barba de bode das casas habitadas tantas vezes de braços abertos,
Das árvores, de mãos dadas, à erva da fortuna
Fechadas a corvos brancos e pretos envelhecidos pelo tempo como eu
E tu -
Quando aprendemos amar nos livros
Permite-me dizer-te que não sei
Nós não somos iguais e eu nem possibilidade tenho
De me tirar daqui, e hoje, já
Ninguém morre de solidão

A Rosa Negra de Halfeti
Se uma máscara por receio
Te outorgar a mão branca
Silenciosa dos tementes
Com a armada de além-mar
Ventos hão de apanhar-te
No teu oboval a escuridão
Ver-te-ás detido na sepultura
Teias de lona te fixarão
Nessa fonte irá correr água-víbora
E no céu a obstar o veneno
Em contínuas perturbações funcionais
Há de romper um lobo
Das feiticeiras o proferir imprecações
Para quem as gaivotas voam e não saem do lugar
Aqueles recifes mágicos pelo fruto da oliveira
Aqueles recifes mágicos pelo óleo consagrado
Não podem fazer os caracóis voar
E, mesmo que, a sombra os cubra
A vida não exaura e eles esperam
Aquele a quem falta um pé passar
De todas as flores que conheci a rosa é a mais branca, a sua alvura é de uma formosura, estonteante. Do seu encanto cresce o pungente desejo, da sua fragrância nasce a melodia, da sua formosura a perfeição agradável deste céu todo em luz a girar tão rapidamente como se imóvel estivesse no mais puro fogo de bilbode, dos seus espinhos a sorte, fatal, das suas sardas a boca, a linha que separa o rouxinol iludido no cume do morro.
Como sobreviver ao doce conforto do sofá, ao bem-estar de todo o espaço envolvente?

Como sobreviver a esta casa arrumada, ao ranger dos utensílios da cozinha muito bem organizada, ao enorme ecrã onde sou espectador, ao bom gosto das cores, ao murmúrio dos tapetes limpos, ao princípio odorífero da flor, à abundância de silencio, ao aroma do óleo aromático para lâmpadas aromáticas e pot-pourris, à mobília onde o pó...

Como sobreviver a todo este sossego inquietante
esta noite a sangrar?
Pode-se senti-lo desfeitear, pode
Sentir-se o seu impulso, conferir
A frequência, ouvir o som, o ritmo sagrado
Escapar à pancada do mar obscuro
Opressivo, alheio, cinzento, mar margarida
De cimento...
Rico a bater, pão-pão, pão-pão
Deixava-se ali, entre o céu e a terra, sem álibis,
com o rosto posto adormecido na acalmia da pequena
paisagem natural entre os monstruosos aglomerados de
habitações que a circundava, contendo toda a inquietude
de quem está prestes a dar à luz. O dia, esse, estava
majestoso, incapaz de interromper a paz que se
respirava desde o primeiro esboçar da manhã.
Do nada, cujo ser tudo pode,
Reflete a imagem de um lençol
Cercado de indigestões, glórias mortas,
E solidão, reaprendendo as estações,
Tal uma criança que se pega ao colo,
Procurando a maioridade do corpo,
Que lhe escapa célere para o abismo.
À falta da vida e da morte apresenta-se o exilado,
Construindo a nova casa que,
Talvez nem exista.
Do voo do hotel, a vertigem, e pouco depois,
A estranheza do túmulo, coberto de nuvens,
E sombras, a do vaso, solitário, a da lápide,
E dentro do caixão, um gemido, fruto da realidade,
Antecedido por uma voz, velha, sussurrando,
Sobre a intuição das lágrimas, o tempo que se vive,
E o momento em que, enfim, talvez nem tenha
Querido suicidar-se.
Bela, cubo de gelo,
Nua deitada coberta,
Apócrifa, gestante,
Tão
Bela quanto, o fel
Que levas aos lábios
De quem te tem
Ao lado, tão macia,
In-
su-
a-ve
Sem palavras, bela,
Indolente tal o azul
Das pérolas ao vento
Bela, grande ve
-la adormecida
Há pés que não são mãos são
Lesmas autênticas passeando no corporativismo
Do jardim protetor do, dá cá aquela palha
Há mãos equidistantes de um ponto fixo
Relíquias pertenças do museu da múmia situado
No colandréu do circulo de
Além
Quer… há seios que são estéreis, darling, e o céu
Que fora azul é negro e eu pinto-o a ouro
Com todas as cores do arco-íris darling

E quando lhe mostrou as ruínas para que visse refletisse e aperfeiçoasse, somando a dor de lhe mostrar a sobra à do afastamento, o seu barco chegou ao fundo, inutilmente, já que as embarcações vivem fechadas nas janelas. E depois do fim, depois da tempestade, do vento do trovão e dos relâmpagos, quando o caminho acaba, resta-nos desejar boa sorte já que no fim vamos começar. A ave columbiforme brava a desservir planta a inópia a manipular o ínfimo servindo-se da dieta do solo francamente pobre. O homem que tem bondade depois da tempestade do vento do trovão e dos relâmpagos, levanta-se e deita-se com serenidade.
Garras
de passarinho curvadas sobre o osso
debaixo da sua pele, tenra, a cabeça
em chamas aperta distanciando
ainda mais os viventes cobertos
com as suas armaduras de água banhando
um puro coração a devorar-se até à última
a escuridão final dos que esperam
dos que amam, dos hauríveis dos próximos
loucos ou
apagam-se as chamas cerram-se os dentes
sem que a força se renda à força
e os dias ancorados te desfaçam
Quando a polícia chegou ao local do crime encontrou um corpo irreconhecível, um duplo completamente esfaqueado, um anjo liberto, e a poesia calmamente sentada, com as mãos ensanguentadas, à espera de ser levada. Soube mais tarde que fora ilibada, por falta de provas, pela soma, e total desproporção.
Lembras-te daquela menina, que te deu a mão, tinha andorinhas nos olhos, a mão inocentemente quente, e uma luz que não cabia nas meias. Tu eras velhinho, havias tropeçado num ramo de uma barreira de tantas invisuais e morrido, estavas frio, do avesso e cadente, de sapatos de vela, sim, tinhas um corte, não a podias reter e guardaste-a. O teu coração está sempre a aumentar e no hospital não há casas no ar. Aquela menina lembra-me… encontre ela o seu destino e ele a faça feliz.

"A Poesia"

A chuva, cirúrgica, batia fortemente no telhado, de carne osso úlceras, e uma maciça liga de pó de poliuretano, não deste pela sombra de capuz entrar, furtiva, o mau tempo que se fazia sentir fustigava as janelas, estava húmido, gelado, um tempo de cortar à faca, reparaste numa janela aberta e fechaste-a antes que a água víbora tomasse todo o espaço onde o teu corpo azul se encontrava quando, sentiste duas mãos de tesoura à volta do pescoço, não demoraste a reagir, apenas o tempo de lhe pedires desculpa, mas de fato não a podias, não a querias albergar, era tarde e cedo para o ocaso do sol, dispensaste a silhueta do corpo desenhada na superfície entreposto entre ti e o sol, levantaste a faca, e claro, toda a sombra teme a luz.
Passe o tempo à velocidade do som,
Ou em slow-motion tal a caracoleta,
Tudo desvanece à exceção da tua
Imagem dentro de mim, que não
Consigo apagar para lembrar
O único amor que me sangra
O vinho, branco algema, e tinto
Pelo pão de água livre bebendo
Comigo à mesa, que as coisas
Não me prendem, bitter sweet
Mas os teus olhos azuis limão
Fiel aos pés segues
no fio na navalha
entre a folhagem
no parapeito do átrio do mar
cessando a morte entesourado
sobre a bicicleta suspendendo
o abandono preenchendo
e moldando esse
bago axiniano no jardim
Não raras vezes ouves dizer: está tudo perdido, como quem insinua que se tudo está perdido pode-se continuar a perder o que aos olhos do perdido está perdido. Desculpas. É como a conversa do bêbado que se perdeu por não sair do seu lugar. Que seria de ti se a dada altura não te tivesses desdobrado? Para ti, que estavas encurtado com a mão na abcisão conformado com duas pedras no lugar dos órgãos da visão tudo estava definitivamente perdido. 
eis que, surgiste resplandecente
nestes olhos d´ouro prata e ouro
, um lugar
onde se respirava meramente ar puro
da brisa suave do perfume da manhã
em que a flexibilidade pela flor de lis
abre portas e dormimos serenos, tanto
quanto a doçura da luz iluminando horizontes
até, que na manhã seguinte, ao jogo do apetite
trouxeste-me a noite em que a luz cega
eu dei-te os meus olhos, tu não abriste
as mãos, o vento cantava, recolhemos ao muro
e levantamos voo, ao oxidar visitei o mármore
consultei o mapa subterrâneo no ardor da ferida
como um dia sem proveito algum
não há remorsos quando deixamos que os voos
aconteçam livres, ainda que encorpados
subordinados ao mar das chávenas
e eu espero encontrar-te mais rara
depois de amanhã no ponto em que
o azevinho abraça o mar que nos é...
[honey]
o grow up das cores do arco-íris


"A Flor de Lis Amarela"
O importante não é a semelhança, mas a diferença. A virtude está no total.
Escreveste muito para combateres o tédio dos dias desocupado devido à sorte desgraçada que te bateu à porta numa altura em que não a esperavas, que nada faria prever. Escreveste muito para preencheres a alma que parecia desaparecer ou esvaziar-se na ociosidade do tempo mestre carrasco dos barcos, que definham e murcham. Trabalhaste tanto para libertar, para acordares nas lembranças a sangrar. Sangraste para aprenderes conheceres e purificares. Atravessaste travessas para seres outro novo dia e um dia teres sido. E escreveste muito a sonhar, impedindo a entrega total das mãos à porta dos sem esperança. Partiste pedra para não te renderes à inconsciência dos do coro amontoados por aí, onde a humanidade se esconde como Molière às três pancadas na caixa do correio avec un coeur brisé, à rigidez dos martelos pneumáticos, ao gelo quente dos dias vazios onde os copos se digladiam em histeria numa campanha de marketing sem mais um dia, e hoje que a noite ainda não tem abrigo, não faz sentido escreveres e deixares o teu amor sozinho.

"Uma Casa Verde"
Folhas de pólen: as estrelas,
Sem horas nem demoras,
Ardentes, onde nos perdemos,
Para regressarmos aos corpos,
Enluarados, dos poemas,
Perfumados no apogeu, melódico,
Literário
Amarelo do qual se faz o mar
Uma consciência tranquila é sinónimo de um coração saudável que fez o que pôde para te guardar.
Amo-te e encontro-nos
Amo-te e, desencontro
Amo-te porque nos substituo
Amo-te e não sei porquê
E na verdade eu, amo-te
Amo-te para não me esquecer
Amo-te porque quero lembrar
Amo-te porque não consigo
Imaginar a vida sem
Amor, eu amo-te para nunca
Mais deixar de a-mar

Ela é o fluxo habitante da casa amarela, orvalho desvendado no papel pelo poema abraçar o vinho, a rainha, como os pombos a palavra, tal a rosa e a águia, o sopro maternal de um espaço ilustrativo e simultaneamente, um grito de um lírio em comunhão com a tarde, com a noite, em suma, com o tinto a caminho doutro dia, para compreender e acordar um rio, mergulhando num coração enamorado sob um céu, contemplativo, regenerador, representando o louco amor, na vivacidade do luar encarnado a ecoar, verdes, azuis mar.
Saiu para a rua estupefato com as dores sentidas dos ossos, nas ancas, coluna, cruzou-se com um, duas, três, quatro, mais, muito mais, e, ninguém; nem um bom dia, para ele pois, que acordara com a alma do lado direito e que respirava, apesar das dores, o ar tépido daquela manhã de primavera muito bem-disposto, diria mesmo, inocente, principiando o costumeiro passeio matinal que o levava todas as manhãs a presentear o rio com a sua companhia, tão perfumada quanto as das Índias. Uma passeava o cão pela mão, outro a cadela atrelada, muitos atropelavam-se à porta da Escola Primária enquanto entregavam as crianças ao nobre estabelecimento de ensino, sem máscaras porque a idade viral havia acabado. Chegado ao rio, o Douro dos seus amores, apresentava-se no horizonte, calmo, sereno, sem qualquer ponta de vento, como um espectro imóvel espelhando as nuvens do céu azul antar abertas o suficiente para deixar passar o sol barbado aos pinguinhos a amornar o ar de melrose emprestando doçura às flores que não o cumprimentaram pelo caminho, e a si, um bom cidadão deste mundo assimétrico em evolução, por vezes bravo e envergonhado, com medo vergonha ou pouca vontade de falar, onde a palavra é escassa, onde é mais fácil amar os cães porque coitados - o bicho, faz normalmente o que lhe mandam, sem questionar, reclamar - até que, de novo no lugar de onde saiu, após a caminhada tonificante do dia, entrou numa mercearia e ouviu da boca de um homem, forte, tronco largo, tamanho éne, que poderá ser de neandertal, e que, nessa manhã ajudava a proprietária do pequeno estabelecimento na reposição dos produtos em falta nas prateleiras dizer para a esposa de saída após o reabastecimento dos géneros alimentícios: vê lá se vais direitinha para casa porque eu quando chegar quero a comida na mesa. Bom, ainda pensou que a culpa de tal imposição fosse dela, mas a senhora retorquiu: Ai sim, então hoje vais comer ao restaurante.
Por me esquecer de ti
É que esta tarde fui à Torre Eiffel
Comprei pêssegos e depois fui ver
Le Trésor du Château Sans nom
E tu não foste levar-me um beijo
O vento soprava gelado
Já via a noite no jardim
Lembro-me de ouvir alguém dizer:
Ali há nozes de pedra no chão
E como não vi nem um sopro
Caiu-me o amarelo e pouco depois
Quase me caía a vida toda
E dizes tu que não me lembro de ti
Tens en vésperas, lenços a mais
A continuares a embrulhar o presente
Terás futuros a menos, a menos que
Moderes o clima
Olha, e olha bem
Com paciência verás
Que há laços na meia-sombra
Tens ouroboros no pulso
E borboletas dentro de ti
Eram duas mãos e desencontravam
A amorfia, a erva, a areia, a solidão

Eram duas mãos que se encontravam
Vestindo as árvores, duas que davam
Que se abraçavam pelo ovo, pelo fogo

Eram duas árvores e desencontravam-se
Por um raio vindo do céu e após a chuva
Pela negra espuma do carvão

Eram dois meiguiceiros e reencontravam-se
Dispensando as cadeiras pela completude por
O vinho e o pão
Silenciar, mostrar indiferença, esconder o vestido, não significa que não exista. Mostrar o que não é belo, o silencio das noites dos dias em cadeia, a impiedade, e tudo o mais que existe pode tornar sensível a humanidade: ao reconheceres o que existe podes tratar a se tiveres o; Tens o direito à diferença, ao belo, e a procurar o caminho em direção à conformidade do dito com o feito.
Libertamos a poente
As veias cheias em galhos
E a pedra no sapato

Chamamos o coração
Perfurado pela seta
Refletimos sobre a ansata

E do murmúrio
Dando fio às árvores
Fazemos as mães
Cavalos e gatos
Era cedo, bastante cedo quando
Fui limpar e abastecer os capoeiros.
O dia começara escuro, azulíneo,
Era ainda aurora, vi pombas bravas,
Dispersas sobre os cabos eléctricos,
Um ou outro madrugador, a padeira,
De porta em porta, acaso ou não,
Sentia-se a brisa fria, da solidão,
Ouvia-se o silencio zumbir, e,
Galos cantar, mas pouco a pouco foi clareando,
E por fim pude sentir
O calor da lua, de mel, e o sol chegar.

O sol a beijar-lhe a pele, hidratada, resplandecente como se uma aparição, pura diria, caminhasse serena e despreocupada junto ao mar, tal como imaginara, elegante, trajando um belo vestido de linho branco com folhos nos ombros, tal a brisa ardente, corpórea que se faz sentir para meu deleite esta magnifica manhã, que tantos veraneantes trouxe à praia, e caminhasse suave como a música envolvente nos meus ouvidos como que, a flutuar nestes olhos, brilhantes creio, num andar sedutor povoando todo este mar de sonhos com a sensualidade das grandes deusas da fertilidade onde o pó viaja como sementes, à procura de água, a voar.
Quando invisto nas minhas nuvens não me interessa muito a resposta, e raramente aponto o dedo, porque as nuvens não precisam de resposta, apenas de chover. E porque há coisas que não teem resposta fácil não precisam de ser apontadas, nem julgadas, precisam apenas de amor, e uma nova oportunidade. A poesia deveria ser esse momento de vida infinito. Haja luz e bondade. Eu, Pacífico, entretanto, a resposta surge, naturalmente.
Via as nuvens afastarem-se a cada dia cada vez mais, desapareciam como fumo, e quanto mais chamava mais se afastavam, era como se estivesse preso em areias movediças perto de desaparecer deixado à sua sorte, como um monstro, uma criança, um recém-nascido, um idoso ou alguém doente, segundo o invisual pedinte assíduo na Rua 21, como um peso que pode atrasar ou comprometer. Pensei, será uma besta, e parti à procura de conhecer a cidade. Era uma cidade feita de areia e pregos mergulhada nas suas rotinas e vicissitudes diárias. Na Rua 31 uma dúzia de gatos e alguns cães viviam junto aos contentores de onde se alimentavam, de onde nunca saíam, comiam e dormiam enquanto uma dezena de gaivotas se alimentavam das sobras deixadas dos restos que os quadrúpedes comiam a horas. O silencio era um habitué só interrompido pelo som dos motores a emprestar mais fumo ainda àquele lugar impróprio para consumo feito de areia e pregos. Na Rua 11 dirigi-me ao primeiro estabelecimento comercial que encontrei para tomar um café, era uma associação, ao balcão uma voz perguntou se era sócio. Não era. Saí e procurei um café. Veio-me à memória aquela imagem que se enterrava a olhos vistos chamando pedindo socorro. Seria mesmo uma besta? Tomei o café e continuei a minha visita àquela cidade feita de areia e pregos. Passei no átrio da igreja matriz onde todos se cumprimentavam e seguiam apressados os seus caminhos, sem tempo para mais, de areia e pregos, caminhei até ao centro daquela cidade silenciosa toda ela feita, de areia e pregos, onde a palha e derivados cresciam como garrafas vazias nas margens das ruas e avenidas a leste dos gritos daquela figura que lutava pela vida, vi uma casa de jogo de porta fechada, aberta, na rua 44 um pequeno e sofisticado boteco seguidamente de um cinema, àquela hora abertos, fechados, dirigi-me à junta de freguesia situada na rua 66 para saber mais sobre aquela cidade feita de areia e pregos, encontrei-a aberta, fechada, seria talvez das horas, ou da substancia mineral pulverulenta, matérias primas do diabo. Sentei-me no banco de jardim lá ao lado e voltei a pensar na figura que se afundava, retornei ao local das areias movediças confuso dos números, da numeração das ruas, e já nada havia a fazer, aquela alma havia sumido nas barbas daquela cidade feita, de areia e pregos.
Com o vento que me deste parti à pressa,
Trouxe as meias, ficaste-me com o coração,
Um sapato, a camisola e um livro:
No momento, o café está fechado,
Trouxe a noite e o desejo, hidden…
No ponto de equilíbrio liguei dois
Pontos separados e aqueço-me
Esfregando as mãos, e sabes que mais,
Tanto frio dava para fazer um coxo
Agora és sede e água adormecer
E o que te quero dizer é que não
Há forma do impaciente ver o novo dia

Agora pensas na mão que suportaria o rosto
Na frescura da folha mimosa, todavia
Há pétalas que nos escapam e eu nem sabia

Agora és mais uma gota, umbrosa
É coração incomensuravelmente ardente
Verdadeiramente cadente a passar

Agora já é noite e hoje, não há fogo de artificio
Haverá ainda algumas balas de salva, ectopia
E sabes que toda a lua tem uma boca e não há
Noite que não nos leve a outro dia

Agora sem a ternura e o afeto daquela chaveta
Até estes verdes são somente um ceder desejando
Aquela querida, aquela gaveta
Apanhei um felídeo
Caído do penhasco
Havia perdido as garras
Na asa delta do amor
Os meus amigos bêbados não mudam,
Dizem que são resilientes. 
Esta manhã não sabia o que vestir,
Vesti uma camisa preta para sair e,
No mínimo tentar
Chegar a outro dia
Gosto de
Sentir este rio às vezes
Que não consigo parar
E fingir ao som da sua música
Os olhos fechados a luz apagada e esquecer
Que não consigo esquecer o teu
Rosto, o beijo, o telefonema às vezes
A tua voz, sensual, as mamas
Tão pequenas e perfeitas, as coxas
Todas as curvas até ao mar
Pois eu sonho contigo amor
Outras vezes
O silencio tira-me o sangue todo e eu morro
Vai-se descobrindo as asas no desapego da matéria
Despindo e vestindo o interior lentamente trocando
O sentimento taciturno das coisas pelo sentimento
Fagueiro da leveza preenchida pelo mel de um leite
Endémico, do poema, em desassossego num abraço
Ao sossego contemplativo doutra vertebra de mar.
O que se vai despindo é mármore, perde-se cárceres,
bolotas de ferro, tudo é fogo, o que se ganha é ouro-
lhano luz.
Jamais quis e continuo, sem querer pois,
caminhar em direção a alguma estrela,
não gosto da minha sombra,
nem da luz que a suporta na escuridão,
mas gosto de sentir,
e pensar que me amas.
Jamais te diria eu quero-te,
nem o velho autoritarismo
de uma velha nação algum dia
levará o vinho ao mar,
e eu quero amor, meu amor
Queres construir uma casa capaz de resistir às intempéries, começas pela cobertura interna do edifício. A peça de barro com que se cobrem os telhados deve ser erudita, capaz de compreender os ramos, é a base dos barcos imunes aos embargos dos portos enquanto entalhas o lugar. O destino é a liberdade. Um dia dedicas a casa ao mar e nunca mais te arrependes de teres um coração, grande, móvel, bem formado, independente, bonito.
Quando morrer,
Deixarei de ver os meus tristes,
Serei mais um em bom rigor jamais visto,
Um dia humus misturado com as flores roxas,
Na terra amarela coberta por erva verde
E a brisa desfeita nos seus lábios adormecidos.
Quando morrer adeus
Meu amor, serei só O amor
Um dia esquecido
Como esse olhar derradeiro.


Puseste a vida no móvel;
Uma rosa na mesa;
As chaves estão na porta,
do lado de dentro.

O quarto ganhou uma luz nova;
O ano está no fio da navalha;
E eu tenho mesmo de agradecer.
O relógio já não dá horas.

A morte começou finalmente
A desaparecer.
Nem há memória para lições,
Da escola da rua
De palha de que já nem te
Lembras o nome.

A realidade já não te quer matar;
Tens mais alargadores nas artérias;
O ecocardiograma revelou
Muito amor.

Dá-me um jeito ao tapete do corredor;
Traz o vinho, aquele de notas florais;
Precisas de morrer para ser feliz.

Tens a casa bem arrumada;
O desejo que o coração bombeie;
Sabes o que é que está a tocar;
Patti
De que é que te queixas
Inventamos a existência de Deus para nos desresponsabilizarmos da imbecilidade existencial do mediocre animal.
Ai, que saudade da fantasia -
Da correspondência, ai que,
Saudade das mãos, da boca,
Da voz, do carinho, do trato,
Do calor dessa vagem - ai,
Que, saudade da ternura,
Dessa doçura de perdição,
Do instinto matador da flor,
Do amor que falta viver, ai,
Que saudade de morrer
Lembrar-me-ei sempre de ti, luar rosa pupilar.
A lua suspirando o sol de verão, e o sol de outono…
Não há desculpa que apague a lembrança,
Dos momentos libertos que deixamos de viver,
Por tanto aprisionados aos manequins,
Que sempre tentam clonar pelo medo,
A realizarmos num presente, num gesto mais,
Que empreendemos sorrindo. O teu sorriso continua
Bonito coração bonito, livre, digno de menção.
Palavras são como mel facas e rosas medicinais,
Adoçam como fantasia um leito,
Cortam quando atingem o feito,
E saram quando os pássaros pousam nas telas,
E voam para fora delas
Se te falasse do aproximar da noite, da ingreme calçada
Da inquietude do solitário destapando traumas e desejos
Como quem se sente e sente

Se te falasse da nostalgia, da geleia, do marmelo, do aro
No dedo perderias o interesse e eu preciso de ti no auge
Se te falasse da manhã onde os diamantes se encontram

Será que já te disse que a lua mais possante rosa majestosa
Com mais tom de completude e apetecido sabor és tu viva
Espinhosa vermelha paixão

"A Rosa Gallica L"
Arranja-te, vem aí o amor,
Anda, despe o abandono,
Os que te deixaram na gaveta,
Não querias ser engenheiro, então,
Pegas no sabão e debaixo de água,
Erradicas a poluição, o desvio,
Não és tu que queres ser inteiro!
Vem aí o amor, anda -
Se ainda houvesse fé
Ficaria para morrer
Sereia de água
Quantas manhãs dormi
Quantas noites sonhei
Tantas chamas perdi
E áleas cavei
Que morri
Por encontrar
Como dizer-te que não
Te amo doce flor
Como fugir à meteorologia
Enganar o forte desejo
Selvagem esta noite
Como dizer-te que não
Te amo
Se tens aquele mel querida
Quando este jamais poderia
Desdourar uma rosa
Tão pouco a liberdade
No al
-forge

 


"Veryland II"

Na companhia dos utensílios da nova cozinha o mesto do ser mal amado é o teu almoço. E que fazer aos relógios que se decompõem da assombração das suas horas e se afastam do dia mais morigero da palavra! Hoje não queres comer, tens perdido a fome e a sede de matar. Precisas desobedecer. Queres sentir de novo a sensação de bem-estar e voltar a ti no reflexo do vinho doce doce de amor. Hoje não bebes do poço. Vai ao mar dizer-lhe o quão bizarro és, e à lua, rosa, que amas.
Não é a força da gravidade que assusta
São as pedras da rua que nos sufocam
E o corte nem foi de ver ontem amanhã
Mas hoje
E constatar que nem olham para trás e que algum dia
Temos de pintar o próximo e pela memória por sinal
Seria
Um dia frio
Mas, tu não
Tu que és do ar e vais ao chão tens sempre para mais
Um dia uma
Ou
Mais mãos

"A Rosa Rosa"
O que fazer para escapar às máquinas
Ao medonho silencio dos fluxogramas

O que vestir para levar os peixes ao berço

Valida-me num beijo mais vivo aurora
Que é tarde e o sol não pode dormir
A verdadeira beleza é simples e altruísta, não obedece a padrões, nem se dá a convencionalismos.

O amor não se põe com coisas, não delida e enriquece, de gema não prende, cria raízes e liberta.

Eu sinto tudo,
O que existe
E o que não existe -
E quando faltar o pão
Morreremos tal o vigia,
Alguém ouvirá o som
Dos ossos a estatelarem-se
Que não nos deixam
Respirar tal
A porta fixa com barra de ferro
Podia o arco íris
Não se apagar nas mãos da página
E um novo dia abrir
Dessa luz agente que quando bebida
Traz a sensação de ventara,
Não houvessem estações além do verão
E não se morria na sílaba, sozinho
Florbela, cá o tempo continua bom, inalterável, o arquiteto é o mesmo, os comboios continuam cinzentos, e as máquinas a impor a morte pelo norte. No quadro sinótico as árvores continuam presas aos relógios invejando asas depreciando a liberdade e enquanto somos apontados, comboios matam pássaros para comer. Pois dirão que perdi o juízo, que enlouqueci, os armadores dizem o que é preciso para comer. Quando eu morrer Florbela, e conto morrer um dia, jamais dirão do corindo do sol e da lua, encobrirão o morto com mais um saco, a manipulação, as portas cerradas por meio de trancas coração, a indiferença, a dor infligida deliberadamente, sequer mostrarão as icérias míopes por uma peçonha, surdos mudos argumentam com a razão e quanto à verdade, a verdade é o diabo. Passaram-se tantos anos e continuamos no jardim dos acúleos sob a égide da gula, da estatueta endeusada, hoje mais bem vestida, maquilhada, e eu, sou mau, muito e voo amor, sonho ouso morro e… vi vá
Viva a liberdade princesa.

"Rock´N Roll Brides Basquiat Espanca"
Tenho medo, sinto
Que vou morrer,
E tu não estás
Para me contar uma história

Vai a meio a
Noite sem esteio
Com ela a doer

Fecha a noite
Branca
No destino e canta

Eu não vou morrer
A esbater-me o morro-me:
A maresia irresistível elixir,
O toque alongando, irreverente
Das águas translúcidas, o gosto
Doce salgado onde a mão
Na liberdade menina pa-
deira - andorinha-do-campo.,
A luz, de fogo decídua do sol
Recarregada da força motriz,
Tonificante como é uma lufada de ar
,Manente, durável até

Ressuscitado o poeta morto,
Rendido aos pés: la plus belle,
Cerceando a morte,
Imponente como só o Mar e a
Rosa, arborescente
… 

"O Mar e a Rosa"