Textos de Alberto Moreira Ferreira

A chuva, cirúrgica, batia fortemente no telhado, de carne osso úlceras, e uma maciça liga de pó de poliuretano, não deste pela sombra de capuz entrar, furtiva, o mau tempo que se fazia sentir fustigava as janelas, estava húmido, gelado, um tempo de cortar à faca, reparaste numa janela aberta e fechaste-a antes que a água víbora tomasse todo o espaço onde o teu corpo azul se encontrava quando, sentiste duas mãos de tesoura à volta do pescoço, não demoraste a reagir, apenas o tempo de lhe pedires desculpa, mas de fato não a podias, não a querias albergar, era tarde e cedo para o ocaso do sol, dispensaste a silhueta do corpo desenhada na superfície entreposto entre ti e o sol, levantaste a faca, e claro, toda a sombra teme a luz.