Saiu para a rua estupefato com as dores sentidas dos ossos, nas ancas, coluna, cruzou-se com um, duas, três, quatro, mais, muito mais, e, ninguém; nem um bom dia, para ele pois, que acordara com a alma do lado direito e que respirava, apesar das dores, o ar tépido daquela manhã de primavera muito bem-disposto, diria mesmo, inocente, principiando o costumeiro passeio matinal que o levava todas as manhãs a presentear o rio com a sua companhia, tão perfumada quanto as das Índias. Uma passeava o cão pela mão, outro a cadela atrelada, muitos atropelavam-se à porta da Escola Primária enquanto entregavam as crianças ao nobre estabelecimento de ensino, sem máscaras porque a idade viral havia acabado. Chegado ao rio, o Douro dos seus amores, apresentava-se no horizonte, calmo, sereno, sem qualquer ponta de vento, como um espectro imóvel espelhando as nuvens do céu azul antar abertas o suficiente para deixar passar o sol barbado aos pinguinhos a amornar o ar de melrose emprestando doçura às flores que não o cumprimentaram pelo caminho, e a si, um bom cidadão deste mundo assimétrico em evolução, por vezes bravo e envergonhado, com medo vergonha ou pouca vontade de falar, onde a palavra é escassa, onde é mais fácil amar os cães porque coitados - o bicho, faz normalmente o que lhe mandam, sem questionar, reclamar - até que, de novo no lugar de onde saiu, após a caminhada tonificante do dia, entrou numa mercearia e ouviu da boca de um homem, forte, tronco largo, tamanho éne, que poderá ser de neandertal, e que, nessa manhã ajudava a proprietária do pequeno estabelecimento na reposição dos produtos em falta nas prateleiras dizer para a esposa de saída após o reabastecimento dos géneros alimentícios: vê lá se vais direitinha para casa porque eu quando chegar quero a comida na mesa. Bom, ainda pensou que a culpa de tal imposição fosse dela, mas a senhora retorquiu: Ai sim, então hoje vais comer ao restaurante.