Via as nuvens afastarem-se a cada dia cada vez mais, desapareciam como fumo, e quanto mais chamava mais se afastavam, era como se estivesse preso em areias movediças perto de desaparecer deixado à sua sorte, como um monstro, uma criança, um recém-nascido, um idoso ou alguém doente, segundo o invisual pedinte assíduo na Rua 21, como um peso que pode atrasar ou comprometer. Pensei, será uma besta, e parti à procura de conhecer a cidade. Era uma cidade feita de areia e pregos mergulhada nas suas rotinas e vicissitudes diárias. Na Rua 31 uma dúzia de gatos e alguns cães viviam junto aos contentores de onde se alimentavam, de onde nunca saíam, comiam e dormiam enquanto uma dezena de gaivotas se alimentavam das sobras deixadas dos restos que os quadrúpedes comiam a horas. O silencio era um habitué só interrompido pelo som dos motores a emprestar mais fumo ainda àquele lugar impróprio para consumo feito de areia e pregos. Na Rua 11 dirigi-me ao primeiro estabelecimento comercial que encontrei para tomar um café, era uma associação, ao balcão uma voz perguntou se era sócio. Não era. Saí e procurei um café. Veio-me à memória aquela imagem que se enterrava a olhos vistos chamando pedindo socorro. Seria mesmo uma besta? Tomei o café e continuei a minha visita àquela cidade feita de areia e pregos. Passei no átrio da igreja matriz onde todos se cumprimentavam e seguiam apressados os seus caminhos, sem tempo para mais, de areia e pregos, caminhei até ao centro daquela cidade silenciosa toda ela feita, de areia e pregos, onde a palha e derivados cresciam como garrafas vazias nas margens das ruas e avenidas a leste dos gritos daquela figura que lutava pela vida, vi uma casa de jogo de porta fechada, aberta, na rua 44 um pequeno e sofisticado boteco seguidamente de um cinema, àquela hora abertos, fechados, dirigi-me à junta de freguesia situada na rua 66 para saber mais sobre aquela cidade feita de areia e pregos, encontrei-a aberta, fechada, seria talvez das horas, ou da substancia mineral pulverulenta, matérias primas do diabo. Sentei-me no banco de jardim lá ao lado e voltei a pensar na figura que se afundava, retornei ao local das areias movediças confuso dos números, da numeração das ruas, e já nada havia a fazer, aquela alma havia sumido nas barbas daquela cidade feita, de areia e pregos.