Textos de Alberto Moreira Ferreira
Abasteceram-se de horas e partiram. Iam fazer parte da cidade estrelada numa híper frigideira de alumínio. Ao lugar, só lhe via o despovoado. Subiram às cadeiras carregados de máquinas de furar e lá foram fazer o tal deserto com os olhos brancos esbugalhados postos na mesa a ser repartida por toda a mão leve capaz da mais absurda orquestração. Ainda pensei que houvesse uma fonte decente, mas os pescadores ladravam aos pássaros, os gatos adotavam cães e pareciam felizes no auge das suas armações. Fiquei-me pela argila dos meus dedos sem mãos. Senti o sangue escorrer-me e eles lá continuavam a escavar a furar dia e noite descobrindo surdos, e lá rodavam entre eles os músculos distribuindo maçãs armadas de puas governando os círculos como mudos esfregando os tocos dos membros amputados no centro comercial passando o pé a todo o desvalido feliz com as suas canadianas ganhas no fim da vida onde se abrigavam agradecidos ao frio. Já o sol pendurado, sofria de abandono, não podia fugir ao pilar vertical, frontal, abraçava a palavra,
e abraçaria a vida acaso o amor
não tivesse partido.